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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

AMOR ROMÂNTICO, RELAÇÕES, SEXO... E AMAR!



AMOR ROMÂNTICO, RELAÇÕES, SEXO... E AMAR!
Carlos Sherman

Dedicado a uma amiga, e em resposta a um vídeo enviado por ela, onde Pedro Calabrez fala sobre o Amor e Paixão.

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Obrigado, querida, já conhecia o vídeo, mas tenho algumas ressalvas e complementos a fazer:

No amor, e após o jorro da paixão, a relação realmente precisará funcionar. Vivemos novos tempos, e a mulher definitivamente encontrou o seu espaço e independência... Mas não defendo causas feministas, e ao contrário, denuncio seus excessos.

E caracterizar a paixão no vídeo como "demência" não é uma resposta científica, e sim um apelo midiático. Existe certo exagero aí, com um viés muito negativo... É mais como uma sensação inebriante, deliciosa, e até viciante... Estudos mostram que em casos muito raros pode durar por toda a vida, embora normalmente despenque em menos de 12 meses, que começam a contar na assinatura dos papéis estabelecendo as condições para o destrato. 

Mas podemos sim continuar nos apaixonando pela mesma pessoa, sempre, e indefinidamente... e isso essa me parece ser a expressão máxima da experiência humana!

O circuito do amor, por outro lado, começa em uma região muito antiga, a área tegmental ventral, que se conecta no sistema límbico à amídala. Esse é o circuito responsável pela liberação de cortisol, produzindo aquele friozinho na barriga, e também estresse: o medo da perda, o ciúme. Outro circuito conecta a região tegmental ventral com núcleo accumbens liberando dopamina, e produzindo aquela maravilhosa sensação de recompensa característica do amor romântico, quando correspondido. 

Mas algumas pessoas ativam mais um circuito do que o outro, e produzem mais cortisol do que dopamina, mais medo do que recompensa, em diferentes gradações. Isso depende intrínseca e inescapavelmente de nossa natureza neuropsicológica. Finalmente o córtex pré-frontal media tudo isso, com papel predominante da região ventral medial, responsável direta por nossa tendência à socialização, caracterizando em grande medida nossa personalidade.

Existe ainda o problema da inibição da serotonina, responsável pelo prazer "suficiente e necessário", alegria, e satisfação... E é aí que entra o importante papel do sexo, de "fazer amor", exatamente para lavar e enxaguar os nossos cérebros com serotonina, além de mais dopamina e endorfina - até 400 vezes mais poderosa que a morfina... Assim, o sexo cumpre uma função essencial na satisfação, no relacionamento, e na vida. Sexo é saúde!!! E a liberação sexual coincidiu com o processo pacificador que estamos vivendo.

Como o tempo, em uma boa relação, caso raro, já que não evoluímos para relações monogâmicas, o estresse e o medo decaem, a confiança e a cumplicidade aumentam, enquanto o sexo ajuda muito nessa transição. Essa é a trama da vida e do amor... Pois, VIVA O CIRCUITO DO AMOR!

Lembrando ainda que o amor romântico é recente; e começa a ser cantado em verso e prosa por trovadores venezianos somente no século XII. E pensar que Platão desprezou a poesia em sua República vegetariana. Assim, o "cavaleiro" medieval transcende à condição de "cavalheiro". O culto às tradições de cavalaria é mantido, em parte, assim como o enaltecimento do heroísmo; mas dessa vez o objetivo é a adoração a/de uma só mulher... Isso subverte, em certa medida, os impulsos biológicos ditos masculinos em relação à quantidade de conquistas, em favor da qualidade da conquista... no advento da fidelidade. 

Este é um importante passo cultural alicerçado em possibilidades humanas inatas, como o altruísmo. O quarto elemento presente neste passo histórico é o sofrimento. E mais tarde, no final do século XVI, Shakespeare materializaria este amor romântico em Romeu e Julieta. Um romance como apenas três dias de intercurso, conta cinco mortos, rsrsrsrsrsrs... Mas está eternizado em nossa cultura; onde, definitivamente O AMOR ESTÁ NO AR! E lembrando que o Taj Mahal - que tive oportunidade de visitar - é uma construção mongol e muçulmana do século XVII; erigido em nome de uma entre centenas de concubinas - o que não guarda assim tanto "romantismo"... 

De lá pra cá, tratamos de aplacar a violência que teimava em impedir que os amantes se unissem voluntariamente, rompendo com toda tradição patrimonial do casamento, e melhoramos muito. Só em nossos dias, e nunca antes na História, o amor romântico foi expressado de forma realmente livre.

Para essa tradição do amor romântico convergem cinco vetores contingentes muito fortes: (1) A cadeia de eventos que remonta o direito de propriedade, herança, e finalmente família; já que o matrimônio reza sobre bens - e nada mais; (2) O enaltecimento do prazer, com resultado o advento científico e bioquímico da pílula - assim como outros métodos contraceptivos; subvertendo o papel meramente procriativo em um tremendo parque de diversões; (3) A independência e direitos da mulher; (4) Questões de saúde pública; (5) A certeza da vida finita - mesmo quando não é confessa...

Queremos ser felizes aqui e agora... e com muito prazer! Hedonistas, e com pouco tempo a perder! Hoje, gestamos no máximo dois, um, ou nenhum filho. Não estamos dispostos à promiscuidade e a independência da mulher, nos círculos mais esclarecidos, é um fato. A propriedade se torna secundária, quando colocada em perspectiva de realização pessoal e humana. E o que decorre de tudo isso é uma interessante quebra de paradigmas, convertendo a monogamia "por toda a vida" em relações monogâmicas eternas enquanto durem... Várias relações monogâmicas ou de fidelidade, e, melhor dizendo, de lealdade - que abrange e amplia o conceito...

Finalmente, tudo isso versa sobre o "amor romântico"; mas  outras relações também podem funcionar, e o amor romântico definitivamente não é a regra, e nem vale para todos. Lembrando ainda que a maior parte dos matrimônios no mundo ainda são arranjados ou negociados. 

AMAR, verbo intransitivo, apesar da relação semântica, é algo bem diferente. Trata-se de uma capacidade neuroquímica ligada, entre outras coisas, ao conluio entre neuroreceptores e transmissores para a oxitocina e vasopressina. Estes hormônios estão em profusão no cérebro das mulheres durante a gestação e após o parto - mais em umas do que outras... Amar é um conceito mais amplo, que desencadeia ações com fortes vieses altruístas, em contraponto ao egoísmo e individualismo. Quando vivemos pelo sorriso alheio.

Amar não cobra um payback, mas alimenta-se do feedback bioquímico, da sensação pessoal e intransferível de fazer o bem a outrem... Dividindo recursos, víveres, tudo... ou até mesmo, em sua epítome, dedicando a própria vida.

Contrariando o senso comum, na verdade estamos amando mais... muito mais! Estamos selecionando o amor! Por isso estamos melhorando, aumentando a solidariedade, morrendo 40 vezes menos ao nascer, diminuindo a violência em mais de 100 vezes, e triplicando a expectativa de vida, enquanto controlamos a taxa de natalidade.

Por outro lado, a liberdade de escolha para homens e mulheres, a liberdade de escolher amar, vive também a sua fronteira paradigmática; já que tal liberdade vive seus dias de excesso... e escolhemos como em uma vitrine interminável - no POF, Tinder etc... Já não nos conformamos em questionar se a relação é boa ou não, mas passamos direto ao seguinte questionamento obsessivo: não poderia ser ainda melhor? Sem pretender nivelar a maravilhosa experiência de amar por baixo, advirto que isso pode, em certa medida, levar à vulgarização de nossa liberdade de escolha, e consequentemente à superficialidade nas relações... Afinal: NUNCA INVESTIMOS TANTO EM AMOR, EM AMAR... E NUNCA NOS SEPARAMOS TANTO!

Podemos invocar o "eterno enquanto dure", mas recomendo a cautela em julgar se uma relação pode ou não durar; o que dirá, "eternamente"! De minha parte, confesso estar condenado à sensibilidade, de forma que foco sempre no amor romântico e eterno. Sempre pulo sem paraquedas, e até o fim! Mesmo quando não dura, a disposição de quem possui a capacidade de amar sempre será um ato de amor... Sendo essa, repito, uma resultante inequívoca de nossa natureza neurofisiológica!!! Então, e para aqueles felizardos, capazes de amar... apreciem o voo, e curtam a vertigem!!!


Carlos Sherman

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